sábado, 5 de março de 2011

Cofres, Copas e Conchavos.

Carta Capital, 01 de março de 2011
Sócrates

Cofres, Copas e Conchavos.

Dinheiro público em pauta.


Quando o presidente da CBF afirmou que a Copa do mundo brasileira seria da iniciativa privada só acreditou quem jamais passou perto de qualquer evento esportivo nacional. É praxe, é claro, é tendenciosa toda sorte de objetivos declarados ou não pelos donos do nosso esporte. Quando lá atrás, inventou-se a primeira candidatura de uma cidade brasileira para sediar a olimpíada, várias empresas investiram pesado para bancar a preparação do pleito. No entanto, com a derrocada do sonho nem mesmo uma prestação de contas foi feita para dar respostas aos parceiros de então. Quando da primeira pretensão em trazer uma Copa do mundo, elaborou-se um caderno de encargos de dar vergonha a qualquer brasileiro ainda que ele tenha custado um caminhão de recursos.
Desta vez não poderia ser diferente. Um estudo do Tribunal de Contas da União demonstra que quase 100% dos gastos previstos de 23 bilhões de reais (que certamente no final das contas será ultrapassado e muito) virão dos bancos e empresas estatais (BNDS, CAIXA ECONOMICA FEDERAL e INFRAERO, por exemplo). Parece até que não existe iniciativa privada neste país continental e uma das maiores economias do planeta. Mas para quê ela vai colocar dinheiro na mão de quem não cuida do seu próprio dinheiro? Eu e o país inteiro sabemos onde ele será enterrado (?). O pior é que as obras na maioria dos estádios não andam ou estão lentas demais. Isso sem contar que (com honrosas exceções) o planejamento viário, hoteleiro e demais itens fundamentais para a viabilização do evento estão longe de atender a demanda imaginada. Além, é claro, erros de projeto e execução, atraso nas licitações que invariavelmente ocorrem só para que o cofre se abra sem muito controle da população como no pan-americano do Rio de Janeiro.
E os atletas?  Esses, nem se fala. Estão com o bolsa-atleta atrasado como se um indivíduo para correr, nadar, pedalar, treinar enfim, não necessitasse de recursos para se vestir, morar, alimentar-se, etc.. Uma bela preparação para o próximo pan no México e para a olimpíada de Londres em 2012 e no Rio de Janeiro de 2016.    


Puro preconceito.



Para que existe a Copa do Brasil? Aparentemente é só uma cópia piorada das Copas que se perenizaram nos países europeus e foram exportadas mundo afora. Normalmente estas competições servem para integração das diversas regiões do país e das diferentes potencialidades de clubes e municípios que se espalham por todo o território. Clubes grandes e tradicionais visitam rincões onde raramente são vistos a não ser nestas ocasiões já que disputam torneios diferentes e a capacidade econômica dos centros distantes das capitais financeiras da nação não possuem capacidade de contratá-los para eventuais amistosos. Só por este motivo deveriam existir estas tais Copas. Entretanto, no Brasil apesar de haver o encontro destas diferentes culturas e realidades os times do sertão, do semi-árido, do interior da Amazônia e outros são impedidos de mandarem seus jogos em suas cidades e respectivos estádios transferindo-os para agrupamentos humanos maiores num claro componente discriminatório ou, no mínimo, de intolerância. Com isso esvazia-se o processo filosófico destas competições que passam a ser apenas um desfilar de equipes do sul e sudeste em busca de uma vaga em torneios continentais. Como dizia o poeta: e se o sertão virar mar? Aí então a lógica transformará o sertanejo em potência econômica e os papeis se inverterão. Mas quem hoje está preocupado com isso? Que se danem os pequenos, pensa a maioria. Infelizmente, esta é a lei nacional que um dia espero desaparecerá para o bem de todos. A nação agradecerá.   


Jogo e golpes.

A disputa sobre os direitos de televisão para os próximos campeonatos brasileiros implodiu o clube dos treze. Com o aval e provavelmente intensa ação de cooptação de vários clubes por parte da antiga e monopolista instituição e da esperta desfaçatez da Confederação de futebol a organização já não tem mais como se manter nos moldes anteriores. O objetivo é que a licitação não aconteça e as negociações já iniciadas (muitas já contratadas) sejam individuais numa clara tentativa de desrespeitar órgão tão importante como o CADE e resgatar o velho monopólio. Se eu fosse a TV Record estaria atento aos passos do oponente e antecipado os acordos com Ceará, Bahia, São Paulo, Atléticos e outros. Teríamos assim um impasse que traria para a mesa de negociação quem quiser participar.


Incoerência e insensibilidade

Agora, 03 de março de 2011
Sócrates

Incoerência e insensibilidade.


A Libertadores até agora tem se tornado um fiasco para muitos clubes brasileiros. O Corinthians não conta: caiu antes mesmo de chegar a disputá-la já que os jogos contra o Tolima determinaram somente quem iria seguir em frente. Mesmo assim foi um tremendo fracasso que causou inclusive a saída de alguns jogadores contratados a peso de ouro. Fluminense e Santos, principalmente o primeiro, correm riscos enormes de desclassificação depois da rodada do meio de semana. Mas o que me chama mesmo a atenção é a fome com que os clubes brasileiros estão determinando o preço dos ingressos nesta competição. É um absurdo, uma extorsão e que causa uma elitização dos presentes no estádio já que aqueles que possuem menor poder aquisitivo não são contemplados em nenhum momento. Existe aqui uma falta de sensibilidade que produzirá conseqüências danosas em um futuro não muito distante já que a arrecadação de um clube depende do público que possui e este não está sendo renovado; pior: está sendo maltratado de forma vil. Por que não estipular preços diferenciados nas diferentes localizações do estádio? Assim todos teriam a mesma chance de acompanhar os jogos do seu clube. Outra coisa: por que os ingressos para o campeonato brasileiro são tão mais baratos? Será que um Santos e Corinthians ou um Flamengo e Fluminense vale menos que Cerro e Santos? Há aqui uma incoerência do tamanho da insensibilidade dos clubes.