terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Direito de resposta!


Carta Capital, 19 de janeiro de 2011
Sócrates
Direito de resposta.

Devido a alguns comentários raivosos em relação ao texto publicado na primeira semana deste ano (guerra e paz), resolvi comentá-lo. E começo pelo fim: Se transformarmos os objetivos políticos em econômicos e sociais (literalmente: em 1936 tentou-se esconder o genocídio; aqui tentaremos esconder problemas sociais e econômicos; a comparação de ideologia política em momento algum foi colocada; até porque seria absurda) poderemos muito bem imaginar o que deverá acontecer em nosso país em 2016.
Guerra fria, guerra dos seis dias, guerra sangrenta, etc. Existe toda sorte de adjetivos para caracterizar a mais absurda das ações humanas (ou será que alguém discorda?). Mas as guerras nem sempre são fruto de determinações destemperadas geradas em mentes insanas (às vezes os motivos são puramente imperialistas e/ou militaristas como a nossa ditadura). Eu sei, eu sei que este tipo de análise jamais provocaria um sentimento, digamos, contemporizador na cabeça da maior parte dos cérebros privilegiados. Às vezes utilizamos este termo para definirmos uma forma de atingirmos, ou de uma sociedade construir, uma nova ordem que restabeleça uma relação mais sã entre seus constituintes. Por si só já está implícito, neste ponto, um gigantesco conflito. Talvez devêssemos encontrar uma forma mais pura e palatável para exprimirmo-nos. Seria muito melhor. Infelizmente nossas limitações nos empurram para contrastes nem sempre fáceis de entender (um passeio pelo que compreendo como o pulsar humano)......
Mas guerra é guerra. Existe até guerra santa! Sempre há uma causa e um ideal ainda que desumano. E tudo em círculo, sempre vicioso. Napoleão em sua excentricidade queria tudo. Queria o mundo. E bateu-se com o Czar russo. Lá, no norte do planeta, existiam muitas das maiores reservas de petróleo e grãos. No entanto, como Tolstoi nos mostrou em “Guerra e Paz” foi por motivo menor que a guerra acabou sendo proclamada. Napoleão se negou a retirar suas tropas quando instado a isso.  (recordação histórica)
Já os alemães saíram desolados de uma grande guerra para entrar em outra; bem pior. Levaram ao poder o homem que pregava contra o tratado de Versalhes, solução encontrada para a busca da paz na Europa e contra o povo judeu. Defendia a pureza da raça ariana. Os nazistas queriam acabar com os judeus que tentam exterminar os palestinos que sonham destruir a América que ajudou a derrubar Hitler. Desculpem, não tenho nada contra nenhum destes povos. Até porque estas decisões sempre foram de gabinete, estimuladas por interesses específicos e executadas por tristes soldados que nem sempre sabem o porquê (outro passeio histórico).
A mesma Alemanha foi escolhida para sediar os XI jogos olímpicos em 1936 em plena realidade nazista tendo Adolf Hitler à frente. Queria-se mostrar ao mundo o crescimento do país e esconder suas mazelas (eventos deste porte são o mais das vezes utilizados para maquiar alguma coisa). Talvez em alguns aspectos (percebam o cuidado com o “talvez”) vejamos semelhanças com o que ocorrerá no Rio de Janeiro em 2016. Tudo foi feito para causar a melhor impressão possível. (ou aqui será diferente?) A Vila Olímpica construída era impressionante: 140 casas em meio a um bosque emolduradas por um lago onde cisnes nadavam suavemente. O momento era propicio para que Hitler pudesse divulgar os princípios nazistas e tentar justificar-se sobre o que falavam em relação ao tratamento dado ao povo judeu. Assim, toda e qualquer alusão a judeus alemães ou visitantes foi evitada tanto pela imprensa como pelo próprio regime durante a realização dos jogos (deveremos em 2016 ver algo parecido com a ECO 92 onde tivemos que mobilizar o exército para controlar os problemas da cidade). Berlim foi praticamente restaurada em seus principais pontos maquiando-se assim a realidade que existia até ali. Quando do pleito alemão para sediar os jogos haviam garantido que os judeus não seriam excluídos do time olímpico alemão, conseguindo com isso varias adesões que culminaram com a escolha de sua capital. O objetivo era claro: sublinhar de maneira impressionante a propaganda alemã de superioridade da raça ariana (outra viagem pela história real).
Agora me digam onde foi que comparei o regime nazista com a realidade brasileira. Se fossem quarenta anos atrás, até que teria alguma lógica, mas hoje? Para quem não leu e não entendeu o comum aqui é que Berlim fez uma olimpíada e nós poderemos ter a de 2016. E como lá, aqui esconderemos nossos problemas para debaixo do tapete (cuidado, é só uma inofensiva metáfora!); o pior cego é aquele que não quer LER.