terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Exclusividade

Carta Capital, 16 de fevereiro de 2011
Sócrates
Exclusividade.

Não sei como é agora, mas provavelmente pouca coisa deve ter se modificado de lá para cá. Quando estive vivendo na Itália, algo que me chamou a atenção foi o destaque que a mídia dava a praticamente todos os esportes e não só ao futebol ainda que este fosse o mais popular. Em cada edição jornalística tomávamos conhecimento do que acontecia no pólo aquático, nos esportes de inverno, no ciclismo, nas lutas, na esgrima e por aí em diante. Esta cultura que não privilegia uma determinada especialização desportiva traz grandes vantagens para determinada sociedade. Todos nós sabemos dos benefícios que o esporte, em particular os coletivos, nos oferece como a possibilidade de socialização das crianças ainda em tenra idade, no desenvolvimento psíquico e físico e na promoção de saúde além de ser uma importante ferramenta educativa em todos os sentidos. Pois quando uma nação divulga, estimula, e promove a prática de vários tipos de esporte ela está possibilitando a que cada cidadão possa encontrar com mais facilidade algum em que se reconheça, tenha afinidade e algum talento para seu exercício. Assim, esta mesma sociedade estará utilizando em sua plenitude os benefícios do esporte, pois a imensa maioria dos seus estará praticando algum tipo de atividade física.
Esta semana li uma história que muito diz desta realidade nacional. A história de Tim Mazzetti é igual a de muitos brasileiros ou não. Em um período que muito se discute as nacionalizações em vários esportes para que atletas possam disputar uma olimpíada ou um mundial, poderíamos imaginar que este americano que aportou por aqui aos dois anos de idade com sua família que para cá veio trabalhar e no Brasil ficou por muitos anos e só retornou ao seu país de origem para estudar e jogar futebol americano na faculdade para posteriormente se tornar profissional de muito sucesso, um dia pudesse defender nossas cores em um suposto campeonato mundial desta modalidade; caso este esporte fosse tratado como qualquer outro e divulgado como se faz em outros países. O mesmo se deu com uma menina filha de pais coreanos chamada Ângela Parker que hoje faz parte do circuito mundial de golfe e que compete sob a bandeira brasileira o que seria motivo de orgulho dos brasileiros caso alguém por estas plagas tomasse ciência. Infelizmente só mesmo os praticantes deste esporte e que não são poucos devem saber disso.
Tudo isso gera um desinteresse por outros esportes que não o futebol quando poderíamos ter milhares de praticantes naqueles menos badalados o que só nos engrandeceria em todos os aspectos. No pólo aquático, por exemplo, há ou houve uma excelente iniciativa na periferia de Santos utilizando-se uma piscina pública que estava abandonada e que frutificou rendendo além de lazer e atividade física para os moradores do local alguns excelentes atletas que chegaram até a defender a seleção brasileira da modalidade. Será que não existem brasileiros que se interessam por outros esportes? Será?   

Final de carreira.

Final de carreira. Hora de por a cabeça no lugar, dar um tempo, pensar bastante para não fazer bobagem. Se durante toda a carreira esportiva choviam ofertas de esplendidos negócios, caiam dos céus inúmeros profissionais para se oferecerem como sócios de discutíveis empreendimentos dos mais diversos, agora isso pode se multiplicar. Hora de no mínimo se qualificar para administrar bem o que foi conquistado durante os anos anteriores para que não dilapidem o patrimônio. Hora de ter paciência e bom senso na definição do quê e para que fazer. Buscar ler muito, estudar alguma coisa, se possível uma universidade onde encontrará juventude, conhecimento e informação que farão com que se sinta mais seguro nos passos que dará dali em diante.
Hora de se adaptar a uma nova situação social, novas rotinas de vida, algo mais real, mais humano, mas nem por isso menos importante. Hora de esquecer o personagem que encarnou ou pelo menos não mais dele depender no cotidiano. As portas que antes sempre estiveram abertas gradativamente vão se fechando caso não apresente qualificação suficiente para ultrapassá-las. A dependência sempre será em relação à sua importância social e não será a eventual riqueza adquirida; esta jamais comprará este passaporte e sim a representatividade que poderá conquistar com as novas empreitadas. Amigos serão os que disserem “bem-vindo ao mundo dos humanos” e oferecerem colo quando necessário.